Inclusão profissional de pessoas com TEA: desafios e soluções com Anselmo Ferreira Santos
Para promover um ambiente de trabalho verdadeiramente inclusivo, é fundamental compreender as barreiras que pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) enfrentam no mercado profissional. Conversamos com Anselmo Ferreira Santos, psicopedagogo especializado em Autismo e o primeiro psicopedagogo autista do Brasil, para entender como as empresas podem se preparar para acolher e apoiar colaboradores neurodivergentes de maneira eficiente e empática.
Desafios no ambiente de trabalho
Segundo Anselmo, os desafios enfrentados por pessoas com TEA no ambiente de trabalho são diversos, especialmente devido à ampla variação de sintomas dentro do espectro autista. Entre as principais dificuldades estão o preconceito decorrente da falta de compreensão sobre o transtorno, as barreiras de comunicação que algumas pessoas com TEA podem apresentar, a sensibilidade sensorial elevada, a interpretação de nuances sociais e a ausência de uma estrutura organizacional clara e previsível.
Para ele, o primeiro passo para promover uma inclusão de qualidade é investir na informação e conscientização de toda a comunidade. Quando compreendemos o que é o autismo e como ele se manifesta, derrubamos as barreiras do preconceito e abrimos espaço para o respeito e a colaboração.
A importância de um ambiente acessível
Anselmo destaca que é essencial adaptar o ambiente de trabalho às necessidades específicas do colaborador com TEA, considerando o nível de suporte necessário. Segundo o DSM-5, os níveis de autismo são classificados em três categorias: nível 1 (leve), nível 2 (moderado) e nível 3 (severo). No entanto, ele reforça que cada pessoa com autismo é única e responde ao mundo de forma especial. Portanto, os níveis de classificação não definem as capacidades ou limitações de cada indivíduo, mas são importantes para orientar as adaptações necessárias no ambiente corporativo.
Para garantir um desenvolvimento profissional saudável e sem sofrimento, é fundamental compreender quais são as demandas específicas e como promover o desenvolvimento de competências com qualidade.
Estratégias práticas para inclusão no trabalho
Uma das principais estratégias para criar um ambiente de trabalho acessível e produtivo para pessoas com TEA é conhecer e respeitar as particularidades de cada colaborador. Isso inclui investir em capacitação da equipe e conscientização contínua sobre o tema, promovendo um ambiente de respeito e empatia.
Além disso, é importante reduzir estímulos sensoriais desnecessários, criar espaços tranquilos e proporcionar instruções claras e detalhadas para facilitar o entendimento e a execução de tarefas. Também é fundamental ajudar na preparação para mudanças, oferecendo informações com antecedência sempre que houver alterações significativas na rotina ou nos processos.
Desinformação e preconceito: um obstáculo real
A desinformação ainda é um grande obstáculo para a inclusão profissional de pessoas com TEA, e isso pode resultar em preconceito e discriminação, especialmente em contextos corporativos. Anselmo acredita que o mundo do trabalho mudou e que é necessário adaptar a gestão para cuidar não apenas da inclusão, mas também da saúde mental dos colaboradores em geral.
Para ele, investir em treinamentos periódicos e promover uma cultura organizacional que valorize o bem-estar emocional, psicológico e social são ações fundamentais para garantir um ambiente saudável e produtivo para todos.
Acompanhamento psicopedagógico contínuo
Outro ponto importante abordado por Anselmo é o acompanhamento psicopedagógico contínuo como prática organizacional. Ele explica que esse acompanhamento pode ser estruturado tanto no âmbito institucional quanto clínico. Na perspectiva institucional, o objetivo é promover uma dinâmica integradora, envolvendo toda a organização e desenvolvendo uma postura reflexiva e crítica para superar obstáculos internos.
Já no âmbito clínico, o atendimento contínuo é essencial para que o colaborador com TEA aprenda a desenvolver estratégias de manejo emocional, habilidades organizacionais do dia a dia e a lidar com as demandas específicas do ambiente de trabalho.
Conclusão
Para garantir um programa de inclusão bem estruturado e sustentável, Anselmo ressalta que é preciso enxergar a inclusão não como uma ação pontual, mas como uma prática recorrente e parte da cultura organizacional. Isso significa criar políticas que assegurem a participação ativa e consciente de toda a equipe, promovendo a empatia e o respeito às diferenças.
Por meio dessa abordagem holística e humanizada, as empresas não só criam um ambiente mais acolhedor, mas também ampliam o potencial de engajamento e produtividade, aproveitando o talento e as competências únicas que pessoas com TEA podem oferecer.